domingo, 21 de novembro de 2010

Rute Reimão


Nome: Rute Reimão
Cidade: Aviz
Blog: http://www.reimao.blogspot.com/
Flickr: www.flickr.com/photos/reimao



Como descreverias o teu trabalho?

A ilustração tornou-se uma extensão do meu corpo e sempre que começo um trabalho nunca sei muito bem qual será o resultado final. Há imagens ténues que me preenchem o imaginário, mas que só ganham vida quando começo a trabalhá-las. O resultado final é sempre o resultado de um sentir, que nem sempre é explicável.



Como é que tudo começou?

Licenciei-me em design gráfico, fiz um curso de desenho na SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes) e foi nessa altura que comecei a ilustrar capas de livros, na sua maioria livros de autor, o que me ajudava a ganhar uns trocos. Eram tão maus os livros, como as ilustrações.

Foi em 1997 que voltei a pegar mais a sério nas tintas e pincéis, desafiada pelo Aníbal Fernandes, na altura editor gráfico do jornal O Semanário, e pelo jornalista e cronista Torcato Sepúlveda. Comecei a ilustrar as suas crónicas de comentário político, social e cultural. Embora nos tenha deixado há dois anos, dou por mim ainda hoje a olhar para uma ilustração e pensar quais seriam as suas palavras.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Para mim era óbvio, é o meu nome e sempre gostei muito dos apelidos e há os que marcam. Tenho amigas a quem apenas trato pelos apelidos, é uma coisa natural.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

No início ainda fiz algumas peças em pano, de que o tempo me fez distanciar, não por não gostar delas, mas porque o tempo não dá para tudo e a ilustração estará sempre à frente.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Esquecendo um pouco a designação de crafts, a ilustração é um trabalho a que me dedico a tempo inteiro quando tenho um livro, ou uma ilustração para fazer, mas a ideia de a tempo inteiro funde-se no meu trabalho gráfico porque eu e o meu marido temos um atelier de design e publicidade, o que significa muitas vezes um acréscimo no trabalho dele quando eu estou a ilustrar um livro, por exemplo.

De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Do que vejo, aprendi desde cedo que é importante olhar e olhar é aprender e apreender. Como faço muitas ilustrações para o imaginário infantil, o Manel [filho de Rute Reimão] tem sido uma peça importante. Enriquece-me todos os dias.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Assim de repente a frase que me ocorre é «ando ao lixo», mas não é bem verdade porque ao longo destes anos a viver assim meio no campo conhecem-se pessoas fantásticas que me têm mimado e brindado com presentes, que para eles já não passam de uns papéis velhos, mas que para mim são verdadeiros tesouros. Delicio-me com a riqueza de texturas, dos tons que os anos lhe têm conferido.



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Numa gíria quase gastronómica é no momento em que meto as mãos na massa e deixo os papéis falarem mais alto…

Como é que divulgas o teu trabalho?

A internet foi e tem sido de facto um veículo importante. Apercebo-me que acabo de responder à próxima pergunta, mas não há voltar a dar…

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

(...)



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Nestes últimos seis anos em que tenho acompanhado mais o trabalho de outros, vi surgir pessoas que não são artesãos, são artistas. Existem peças que são verdadeiras esculturas. Prezo muito o trabalho de algumas pessoas, que vi crescer, que me viram crescer e de quem hoje posso dizer que partilhamos uma amizade.

Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Que experimentem, sem medos, muito e muito.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

São tantos e confesso que não me apetece preterir uns em deterimento de outros. Vou falando do trabalho de quem gosto no meu blog…

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Acabar um livro, com outro sempre para começar.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pinknounou


Nome: Ana Carriço
Cidade: Lisboa
Blog: http://blog.pinknounou.com/
Site: http://www.pinknounou.com/
Flickr:
>http://www.flickr.com/photos/pinknounou
Facebook: http://www.facebook.com/pages/PinkNounou/147601479056?v=wall
Loja online: http://pinknounou.etsy.com/



Como descreverias o teu trabalho?

Colorido, divertido, alegre, doce...



Como é que tudo começou?

Apesar de durante muito tempo ter tido uma (re)conhecida aversão à agulha e ao dedal, acho que o facto de ter uma mãe que gostava muito de me fazer roupa (e também para ela própria) teve uma influência que ficou latente durante muitos anos, mas depois veio ao de cima com muita força ;). A minha paixão por ilustração infantil também teve a sua quota parte... E claro que também a minha formação na área do design foi alimentando este «bichinho» ao longo dos anos.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Foi uma dor de cabeça, não é propriamente o tipo de coisas que goste ou tenha inclinação... queria um nome que tivesse a ver com cores, que passasse uma ideia de alegria, mas tudo aquilo que me lembrava já existia. Acabei por optar pelo diminutivo de um nome de uma pessoa muito importante para mim ;) e associá-lo a uma cor.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

O querer fazer coisas mais manuais e mais de acordo com a cor da minha imaginação!



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Sim. Os meus dias passam por uma parte ao computador a actualizar o blog, a ver alguns blogs de que gosto, a desenhar algumas das minhas criações, a fotografar, a escolher tecidos e fitas, a coser, coser, coser, ultimamente também a bordar muito... a brincar e a ver desenhos animados com o membro mais novo da família :) a coser... coser...



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

De todo o lado, de tudo... de determinadas combinações de cores, de texturas, de livros, de coisas relacionadas com a minha família, de alguns objectos, de histórias, de ilustrações, das cores – as cores são muito importantes para mim!!

Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Em lojas antigas – adoro espreitar as gavetas de algumas lojas - retrosarias, de tecidos, em lojas online, em feiras...



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Não tenho só uma parte, gosto de desenhar os bonecos e de pensar como vou fazê-los, gosto muito de conjugar os tecidos e as fitas e gosto de quando ficam prontos ;) - ou não...



Como é que divulgas o teu trabalho?

Através da internet, de algumas lojas online, das redes sociais e de lojas locais.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Muito importante! Acho que todos os malefícios inerentes à exposição na internet são superados pelos imensos benefícios que me tem dado.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Acho que tem um lado negativo da cópia e da banalização... mas também aqui acho que o lado positivo supera o negativo porque acho que tem surgido pessoas a fazerem trabalhos fantásticos com imensa qualidade e criatividade. E também acho muito boa e positiva esta vontade de querer fazer com as próprias mãos – e o interesse e a valorização que cada vez mais pessoas dão ao que é criado desta forma.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Penso que toda a gente tem um estilo próprio, ele está lá, não temos de o procurar mas sim deixá-lo vir ao de cima - talvez abstraíndo-se um pouco das coisas e pessoas de quem admiramos o trabalho e pegar num lápis e papel e desenhar, desenhar, desenhar, olhar para nós, para quem nos rodeia... e trabalhar muito, ser original e ter também a capacidade de ser critico em relação ao próprio trabalho.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

São tantos, tantos... crafters, ilustradores, «marcas»: HopSkipJump, Weewonderfulls, Orange You Lucky, Matilde Beldroega, Abigail Brown, Ana Ventura, Camila Engman, Mimi Kirchner, Kase-faz, Karin Eriksson, Jane Foster, Laura di Francesco, Marilyn Neuhart, Perdi o Fio à Meada, Margapinta... e muitos mais.

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Ter tempo para ir concretizando todas as minhas ideias e projectos - um atelier/loja seria óptimo! Ter tempo para mim e para a minha família!!! E poder continuar a trabalhar nesta área que me deixa tão feliz e realizada.



Fotografia: Catarina Zimbarra

domingo, 7 de novembro de 2010

bu&bau


Nome: Ana Teixeira
Cidade: Lisboa
Blog: buebau.blogspot.com
Flickr:
www.flickr.com/photos/fio_d_art



Como descreverias o teu trabalho?


Hum... não consigo descrever. Deixo esta resposta para quem conhece o meu trabalho. Estou a começar bem... :D



Como é que tudo começou?

Apesar de sempre ter gostado das artes manuais, nunca as desenvolvi muito. Nunca tive formação nas áreas artísticas (tirando as disciplinas normais na escola) e acabei por deixar este gosto por isso mesmo, um gosto, mas muito pouco (ou nada) praticado.

Só há meia dúzia de anos é que, por mero acaso, descobri que a prática pode ser muito divertida e, ao mesmo tempo, relaxante. Tudo começou num dia em que uma amiga e colega de trabalho partiu um colar e precisou de ir a uma loja comprar, já nem me lembro se era um fecho ou outra peça... combinámos então ir a Campo de Ourique, a uma loja que lhe tinham indicado, para procurar a peça. Assim que entrámos na loja, fiquei fascinada pela quantidade de contas, pedras e outros materiais disponíveis. Claro que não resisti e comprei alguns para experimentar. A partir daí fiquei cliente assídua e comecei a brincar com bijutaria. Muita pesquisa na internet e em livros ajudaram-me a desenvolver técnicas e a descobrir novos materiais.

Com a bijutaria descobri o feltro, que comecei a incorporar em algumas peças. Do feltro aos tecidos foi um pulinho :o) Esta sim, foi a descoberta que fez o clique! Os tecidos são uma paixão, para não dizer um vício.

No entanto havia um «pequeno» problema: não sabia costurar. Tirando alguns vestidinhos que fiz para as bonecas, enquanto a minha mãe e a minha tia costuravam para a família e para fora, nunca mais tinha pegado numa agulha... quanto mais numa máquina de costura...

E até tinha uma Singer velhinha, que era da minha mãe, mas tive dificuldade em trabalhar com ela. Decidi então comprar uma máquina para mim e a partir daí, não parei mais. Mais uma vez, a internet foi a minha «escola». Existem vídeos e tutoriais fantásticos que ensinam as questões básicas. Depois disso já fiz um workshop de costura.



Como escolheste o nome do teu projecto?

O nome começou por ser outro: Fio d'Art. Fio porque mexia com fios para fazer os colares e Art pela graça das iniciais do meu nome (Ana Rita Teixeira) coincidirem com o início das palavras Arte e Artesanato. Foi uma brincadeira.

Na altura em que comecei a virar-me para os tecidos e para a costura, verifiquei que existia outra pessoa que utilizava um nome muito parecido, que era marca registada e este momento marcou a passagem para o nome actual: bu&bau.

bu&bau é a combinação dos diminutivos da minha mãe (Bu) e da minha tia (Bau), com quem dei os primeiros pontos há cerca de 30 anos. Além de estar associado à costura (por a minha mãe e a minha tia terem sido costureiras), é um nome que tem um significado muito querido para mim e ainda marcou uma viragem neste meu percurso.



Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

Porque me relaxam (quando não são feitos sob pressão, razão pela qual deixei de aceitar encomendas), porque me dão um prazer enorme, porque adoro ver as reacções das outras pessoas face ao meu trabalho.

Além disso, tenho o privilégio de ter criado, em casa, um espaço próprio para desenvolver os meus trabalhos. É uma divisão que é um work in progress constante, está sempre a sofrer remodelações (nem que seja apenas para alterar a distribuição do mobiliário) e onde me encontro rodeada de trabalhos inspiradores de criadores fantásticos.

Parecendo que não, ter um «atelier» e ter os materiais e as ferramentas sempre à mão ajudam a que tudo flua mais naturalmente e sem dificuldades.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Não, de maneira nenhuma. Trabalho numa área completamente diferente :) E acho que não conseguiria fazer desta actividade um trabalho a tempo inteiro. Falta-me a disciplina e a ordem para assumir esta actividade. Até porque há dias em que, pura e simplesmente, não me apetece tocar numa agulha e isso não se coaduna com uma actividade a tempo inteiro. Um dos factores que me motiva é precisamente não sentir a costura como uma obrigação. Se fosse, perdia a piada...

De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Acho que a principal inspiração vem dos próprios tecidos. Quando vejo e compro um tecido imagino logo que ficaria perfeito numa carteira, combinado com aquele outro padrão, ou seria ideal para um boneco «Thanks» (uma das peças que mais gosto de fazer).



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Essencialmente na internet.  Para comprar tecidos e outros materiais acho o etsy perfeito. Sem sair da cadeira, consigo ter uma série de lojas com tecidos lindíssimos, permite-me facilmente comparar os preços, os custos dos portes e escolher a que mais me convém.

Em Lisboa existem algumas lojas e retrosarias deliciosas, com os tecidos tradicionais e outros materiais muito interessantes. Começam também a aparecer várias lojas com tecidos importados, de designers conhecidos.

Outra fonte muito interessante de materiais são as trocas, que faço com pessoas de todo o mundo, que me enviam materiais fantásticos que de outra forma não chegariam às minhas mãos. Há pessoas fantásticas neste meio, sempre disponíveis a ajudar e a enviar materiais especiais.



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Ver o resultado final, sem dúvida. Acho muito gratificante, ver as horas de trabalho (nem sempre fáceis) transformadas numa peça que me agrada a mim e que agrada aos outros. É fantástico, e muitas vezes uma surpresa, o feedback das outras pessoas.

Outra parte que adoro é experimentar novas técnicas, novos materiais. Muitos dos quais acabo por abandonar, mas a experiência dá-me um prazer enorme :)



Como é que divulgas o teu trabalho?

Acho que cerca de 90% da divulgação é feita pela internet e os restantes 10%, através de clientes e amigos satisfeitos com os produtos bu&bau que têm :)

Utilizo maioritariamente o flickr como forma de mostrar os meus trabalhos e também um pouquinho de mim. Mas a maior parte das solicitações, curiosamente, surge através do blog, actualizado mais raramente. O facebook é o meio mais recente que utilizo, também com óptimos resultados. De facto a internet é fantástica.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Sem dúvida! É essencial. Mas mais do que a divulgação, a internet tem-me permitido conhecer pessoas fantásticas.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Acho que tem um lado muito positivo. Antes de mais, o crescente número de pessoas a fazer artesanato (urbano ou não, tenho dúvidas sobre o conceito) fez com que surgissem muitas lojas de materiais novos e inovadores que dificilmente encontrávamos por cá há uns anos atrás.

Por outro lado, acho que muitas pessoas que aderiram a esta moda, por um motivo ou por outro, acabam por encontrar no artesanato um escape ao dia a dia atarefado e cheio de afazeres rotineiros em que vivemos actualmente. Se podermos aliar este prazer a uma entrada de rendimento, por pequena que seja, melhor ainda. Já para não falar no facto de fazer com as pessoas valorizem cada vez mais o que é feito à mão, através da mobilização de técnicas tradicionais, técnicas modernas ou a conjugação das duas.

Claro que, como em tudo, há questões menos positivas, mas eu dou muito mais importância ao lado bom da vida e tento passar ao lado do que de menos positivo aparece por aí.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Acho que o mais importante é fazer aquilo que dá prazer. Fazer bem feito (mesmo que isso implique experimentar, fazer, desfazer e refazer). Ser criativo e ser leal para consigo, para com o seu trabalho e para com os outros.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Ah! Essa é uma pergunta difícil, porque é impossível nomear todos os favoritos (de facto há muita gente talentosa e criativa). Posso dizer que muitos já por aqui passaram :)

Ainda que correndo o risco de deixar muitos de fora, posso dizer gosto imenso dos trabalhos da Maria Madeira (kase-faz), da mistura de materiais associada a uma explosão de cores da Lu (hippyxic), das cabeludas da Isabel (Blog da Bilá), da forma como a Luísa (Jin Sanjo) transforma e reutiliza os materiais em peças únicas e originais (e em particular a generosidade e minúcia com que «me fez» :D), da incontornável Rosa Pomar, da ternura das pregadeiras da Zélia (Crafty Doula), da forma como a Rita (Wooler/Cooler) trabalha as lãs e linhas, das casinhas da Isabel (Rosa e Chocolat), de tudo o que sai das mãos da Joana Mateus (Anjo Custódio) e podia continuar aqui muito mais tempo a nomear muitos mais.

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Ter oportunidade de aperfeiçoar técnicas e ter um bocadinho mais de tempo disponível para me dedicar com carinho ao projecto bu&bau.

domingo, 31 de outubro de 2010

Helena Zália


Nome: Helena Zália
Cidade: Guimarães e Gafanha da Nazaré
Blog: 2zai.blogspot.com
Flickr: www.flickr.com/photos/zai-zai


Como descreverias o teu trabalho?

Provavelmente precisaria de distância emocional para descrever o meu trabalho. Sei que é algo que faz parte de mim, que é intrínseco à minha (sobre)vivência. É uma procura constante de satisfação interior, de evolução, de experimentação, de superação…

Porém há o testemunho dos outros, e esses outros dizem-me às vezes que, quando olham para algumas peças minhas, sobretudo se as têm em casa, sentem uma energia positiva que reconforta e alegra. Realmente não sei se é verdade ou não, mas é uma honra ouvir estas palavras. Dão sentido ao que faço.



Como é que tudo começou?

Desde sempre senti o apelo do desenho, da pintura, das imagens, das cores, das formas, dos objectos, dos materiais. E desde que me lembro que existo que tenho vontade de construir/realizar/transformar alguma coisa. Vontade esta que sempre materializei desde a minha infância.

Quando comecei a produzir de uma forma mais consciente, dediquei-me à pintura e à fotografia para meu usufruto ou daqueles que me estavam próximos, divulgando apenas numa ou outra exposição. Posteriormente, e após a participação com o projecto Mutante (desenvolvido na Universidade de Aveiro no curso de Design de Comunicação) numa exposição integrada no Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, onde promoviam o artesanato aliado a um projecto de design, comecei a produzir manualmente o referido projecto, assim como alguns sacos e candeeiros que comercializei numa loja que já não existe em Guimarães. Depois desta experiência estabeleci contactos com outras lojas e continuaram a surgir novos projectos.

Porém, as minhas criações que são mais conhecidas, as bonecas, nasceram no Verão de 2003, como uma procura obsessiva de cor, num período muito marcante da minha vida.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Neste momento adopto o meu nome, representa aquilo que sou.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

Realmente não sei se o que faço são crafts, não gosto muito desta palavra, nem de rotular o meu trabalho. É uma necessidade orgânica e intuitiva, que surge por si. É sobretudo a forma que encontrei para me expressar e de me relacionar comigo e com tudo/todos que me rodeiam.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

A tempo inteiro sou professora de Educação Visual e Tecnológica, pelo que as aulas e toda a orgânica associada preenchem a maior parte dos meus dias. No entanto, encontro sempre tempo/espaço para desenvolver os meus projectos, para estar com a família e amigos, para ir ao cinema, ao ginásio, ver o mar ao fim da tarde, ler um livro... mas como gostava que os dias tivessem 48 horas para fazer tudo o que desejo.



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Há alguma inspiração que não controlo, que não sei de onde vem. Certamente vem de tudo o que vejo, o que sinto, o que vivo. Há tempos, estive a observar alguns dos meus trabalhos e apercebi-me que as cores que geralmente utilizo são também as cores usadas no artesanato e folclore minhotos, esta escolha não é intencional, mas o facto de ser minhota deve conduzir-me provavelmente à utilização de cores intensas e alegres, ou talvez não, poderá ser simplesmente um gosto pessoal. Aliados a estas circunstâncias, a minha formação académica e os cursos livres, workshops e acções de formação que frequentei/frequento, assim como o contacto com pessoas criativas, nomeadamente os meus alunos, dão-me bases e experiências que me permitem explorar vários domínios.

No entanto, acredito que a maior parte da inspiração vem com o trabalho, a persistência e a dedicação.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Depende do que faço e dos objectos/artefactos que me instigam a transformar e criar, mas geralmente encontro em farmácias, papelarias, retrosarias, lojas de ferragens e de bricolage.

De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Todo o processo de produção pode entusiasmar-me ou o mesmo processo pode entediar-me, depende sempre do envolvimento que cada projecto suscita, se o que estou a fazer me está a agradar ou não. Quando não está a sair como quero o mais provável é interromper e certamente nunca mais voltar a ele... ou não.



Como é que divulgas o teu trabalho?

Faço-o através de amigos, em algumas lojas, na web (blog, flickr e twitter) e em exposições.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Sim, sem dúvida. Alargou o número de pessoas que conhece as minhas criações e abriu portas para desenvolver determinados projectos. E à medida que o número de projectos cresce, cresce também o número de pessoas que conhecemos e a probabilidade de participarmos em novos projectos. É como uma bola de neve.

Mas a internet já foi mais importante na divulgação do meu trabalho, uma vez que hoje já não sou tão dedicada à actualização do meu blog e da página do flickr, como antes. Mas foi sem dúvida o grande impulsionador de tudo o que está a acontecer.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Num tempo de globalização como aquele que vivemos, sentimos por um lado a necessidade de fazer parte desta bola gigante, no entanto, a possível ameaça de perda de identidade incita-nos a procurar a nossa individualidade, a nossa cultura, as nossas raízes, e penso que a recriação das técnicas artesanais é uma forma de nos encontrarmos. Neste sentido, considero que é uma mais-valia para todos, pois estamos a valorizar e regenerar métodos de trabalho ancestrais e a revitalizá-los. E temos ainda ao nosso alcance a possibilidade de o divulgarmos a uma escala universal.

Por outro lado, esta mesma possibilidade de comunicação global pode conduzir-nos a vias fáceis de criação que se baseiam na imitação e, infelizmente, no lugar de criações únicas surgem criações em série, com fragilidades conceptuais, pois não nasceram das mãos daqueles que as idealizaram.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Que não caminhem apenas até à Rua da Cópia ou à Rua do Plágio mas empreendam uma caminhada mais longa pelas Ruas da Investigação, da Curiosidade, da Experimentação, do Conhecimento, do Trabalho, da Persistência. Esta última é mais dura e interminável, mas certamente mais gratificante e levará a um estilo mais forte e personalizado. Ao mesmo tempo sugiro que não se limitem a ver apenas trabalhos manuais, se esse é o propósito, mas «vejam» de tudo com todos os sentidos - pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, folclore, artesanato, literatura, natureza, pessoas... enfim, que sintam o pulsar do que nos rodeia, pois a inspiração poderá surgir de onde nunca se imaginava.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

No domínio artístico há muitas pessoas cujo trabalho realmente admiro e que me inspiram, independentemente de serem crafters ou não. Os meus favoritos são sempre aqueles que apresentam um trabalho original, com forte personalidade e que por isso se demarcam e destacam dos demais, e que se impõem por si.

Quais são os teus sonhos para o futuro?

O meu maior sonho é poder manter a capacidade de sonhar.

domingo, 24 de outubro de 2010

Objectos Misturados


Nome: Susana Jaques
Cidade: Viana do Castelo
Site: http://www.objectos-misturados.pt/
Loja online: http://www.objectos-misturados.pt/



Como descreverias o teu trabalho?

É um trabalho cheio de vida que reflecte uma fusão entre técnicas tradicionais e técnicas mais actuais, nomeadamente, digitais.



Como é que tudo começou?

Penso que verdadeiramente se reforçou há cerca de seis anos quando engravidei a primeira vez, mas desde sempre gostei de fazer tudo o que envolvesse o «fazer« manual, desde desenhar a tricotar camisolas para oferecer aos meus pais (que nunca chegaram a usar... ). Aprendi a tricotar por volta dos seis anos com a minha ama (que era como uma avó para mim) e fui aprendendo a fazer crochet e a bordar com a minha mãe e, mais tarde, na escola. Mas sempre fui muito curiosa e gosto de explorar «os mecanismos» e tentar fazer.

O facto de querer fazer «coisas» para os meus filhos, desde a roupa até aos elementos decorativos do quarto, reforçou a minha vontade de querer deixar a vida académica para me dedicar verdadeiramente a criar e a fazer objectos - desejo que aumentou ainda mais com o nascimento do segundo filho. Ultimamente, tenho dedicado grande parte do meu tempo a fazer bonecos, mas tenho muitos outros projectos em mente à espera de serem concretizados.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Principalmente, queria um nome que fosse abrangente e actual. Que permitisse reunir todas as coisas que gosto de fazer (que não passam só pelos crafts), e englobar várias linguagens e materiais - tentei mostrar um pouco isso também graficamente.

Basicamente tentei que reflectisse a variedade de objectos que podem surgir do meu imaginário no que respeita aos materiais usados e técnicas. No fundo o que faço são objectos: para brincar, para usar ou simplesmente para decorar. Por outro lado, interessam-me muito aquelas peças que têm mais do que uma função ou que reúnem, numa mesma forma, vários materiais ou várias técnicas.



Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

Como já referi, sempre me deu muito prazer fazer as minhas próprias coisas. Por outro lado, interessa-me bastante o facto de poder personalizar as peças. Gosto de oferecer às pessoas algo que fiz a pensar nelas, que tem características delas. Essencialmente, penso que é o facto de poder tornar os objectos em peças únicas e transmitir o meu carinho através delas. Também me interessa muito explorar outras formas de implementar as técnicas, pegar nelas e aplicá-las de outras maneiras menos convencionais.

Por outro lado, tento não me afastar da parte criativa. Ou seja, tenho necessidade de estar sempre a pensar em coisas novas para fazer, pois não consigo concentrar-me durante muito tempo na mesma coisa.



Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Neste momento sim. Actualmente é um trabalho a tempo inteiro que divido com a família - que é o que me dá a motivação e energia - e com a organização do espaço que vou abrir, se tudo correr bem, em breve. É um atelier/loja. No entanto, também passo muito tempo no computador no desenvolvimento do site (que foi todo feito por mim) ou a desenvolver graficamente as minhas ideias.

De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Vem muito dos meus filhos - do que dizem, do que fazem, do que desenham... - mas também das minhas vivências diárias - das pessoas, da natureza, das artes, dos livros (principalmente infantis).



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Os tecidos mando imprimir e compro, essencialmente, na internet. Retrosarias. Muitas vezes uso peças de roupa antigas e transformo-as em sacos, brinquedos ou noutras peças de roupa.

De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Penso que gosto de todas as fases, mas as que mexem verdadeiramente comigo são o momento da criação e quando vejo o resultado final. Às vezes a expectativa é grande demais e, quando chego ao fim, fico desiludida. Sou muito exigente e quando uma coisa não está como eu queria, como a idealizei, não consigo gostar. Por vezes tento dar a volta à situação e criar uma coisa nova a partir da primeira, mas a maior parte das vezes tenho que voltar a fazer.



Como é que divulgas o teu trabalho?

Sobretudo através da internet, no Facebook, no meu site (apesar de que, ultimamente tem ficado para trás...) ou por e-mail. Mas também através de algumas lojas. Em breve espero divulgar através da minha própria loja/atelier.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Sim, sem dúvida. Principalmente através das redes sociais.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Penso que tem coisas boas e coisas más. Tenho visto surgir trabalhos excelentes, muito criativos e com muita qualidade que são uma lufada de ar fresco e inspiração. Aborrece-me tudo o que aparece e que é igual ao que está mesmo ao lado.

Um outro aspecto positivo é o facto de contrariar a produção em massa a que estamos habituados na nossa sociedade.

Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Essencialmente que seja autêntico e, uma coisa que é fundamental, que mantenha sempre uma vertente crítica perante o seu próprio trabalho - o que nem sempre é fácil.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Há muitos nomes que gostava de mencionar mas que, na sua maioria, já aqui foram referidos, nomes de pessoas que têm um trabalho fantástico, de extrema qualidade e que são, sem dúvida, uma referência. Eu gostava de deixar aqui duas sugestões um pouco diferentes. Cada vez mais me interessa envolver no meu trabalho, de forma mais assumida, áreas como o design ou as artes digitais. Daí que os nomes que vou referir não são propriamente de crafters mas sim de pessoas que, apesar de utilizarem técnicas e materiais tradicionais que se enquadram nesta categoria, me interessam particularmente pelo tipo de trabalho artístico que desenvolvem, pelas questões que levantam: Magda Sayeg, que faz graffitis usando fios de lã tricotados em vez de tintas, questionando o próprio acto de tricotar, e Leah Buechley que, entre outras coisas, concilia a utilização de tecnologia, como sensores e actuadores, com a sua aplicação em peças de vestuário - wearable technology.



Quais são os teus sonhos para o futuro?

Espero poder conseguir implementar todos os meus projectos e que a minha loja/atelier seja uma mais valia para a nossa comunidade e um incentivo a novas ideias e propostas.

No geral, penso este espaço não como uma loja apenas, mas como um projecto de intervenção cultural, que seja simultaneamente provocador e empenhado na dinamização do espaço onde se insere. Creio que, nos dias de hoje, a minha geração tem de assumir a responsabilidade e de procurar encontrar soluções mais criativas e sustentáveis que envolvam o que de bom a tradição nos deixou e o que de entusiasmante estes tempos nos prometem.